O presente texto não tem a menor intenção de provocar no leitor qualquer tipo de temor, asco ou sentimento similar. Apenas se presta a despertar o pensamento acerca de como uma feliz “curiosidade” pode salvar a vida de alguém, no caso, a minha.
Em dezebro de 2008, resolvi fazer uma bateria de exames laboratoriais, haja vista que fazia tempo que não enfrentava as salas médicas. Exames feitos, resultado satisfatório, ótimo, não? Então, pra mim, não! Resolvi refazer os exames em outro laboratório.
Novamente em perfeito estado de satisfação para minha idade, na época com 33 anos, e há muito tempo sem praticar qualquer atividade física, ou seja, vida sedentaríssima. Na minha lista de exames, ficou faltando apenas o “toque”, que seria feito após os 50 anos .
Mas não estava me sentindo muito bem apesar de todos exames afirmarem o contrario.
Então eu tive uma conversa com um grande amigo que é médico, que me sugeriu submeter-me a um
exame de
toque retal
e teste de sangue psa da próstata. É claro que o chamei de louco! Oras, eu tinha apenas 33 anos e este exame e para homens com mais de 50! Não iria sofrer à toa .
Ele insistiu por diversas vezes, argumentando que a medicina estava revendo a idade para este tipo de exame. Em todas as vezes me neguei em concordar com ele.
Assunto encerrado!
Quando fui colher o material para o exame de sangue psa da próstata, solicitei à profissional de saúde um pedido de
exame de
toque retal . Salientei que tinha 33 anos e que também tinha percebido um nodulo e que sentia muita dor.
Fui marcar o exame e cerca de um mês depois, fiz o famigerado exame.
Em janeiro de 2009 estava no trabalho, quando recebo um telefonema do Juliano dizendo que estava no hospital com o resultado dos exames e que eu deveria ir ate la para saber o resultado destes.
Nesse contato fui informado de que havia ocorrido uma alteração no exame.
Trabalhava ate as 19:00 e perguntei se seria possivel eu ir ate la no dia seguinte.
Nesta noite eu não dormi eu fiquei sentado no sofa com meu filhinho de apenas 10 meses no colo .
na manha seguinte eu fui correndo para lá.
Ao chegar à sala do Juliano, pálido e assustado, mostraram-me o resultado e o Juliano me disse que haviam aparecido algumas alterações . E eu lá sabia o que isso significava?
Ele me acalmou dizendo que não deveria me alarmar e me deu alguns pedidos para exames complementares.
Peguei a requisição para o exame, agendando apenas para fevereiro. Fui fazer o a tal colonoscopia. Estava sozinho, tranqüilo, descansado...
Estava na sala e um médico começou a fazer o exame. E eu? Tranqüilo... De repente, o médico chama outro colega, este chama outro e quando dei por mim,na sala estavam 3 médicos e o juliano. Cochichavam entre si, mas como eu não tinha a menor idéia do que acontecia, permaneci tranqüilo.
Encerrado o exame recebi um encaminhamento médico escrito: ONCOLOGISTA URGENTE! Perdi o chão! Não sabia para onde me dirigir. Entrei em um corredor errado, pensando que me dirigia à oncologia do hospital, quando então uma auxiliar de enfermagem, percebendo meu desespero, conduziu-me pelo braço até meu destino correto. Minha cabeça foi a mil. Não estava entendendo nada. Eu ali sozinho, sem ter noção do que acontecia...
O oncologista me chamou para a consulta. Olhou os exames, me examinou e foi bem direto comigo: essas micro-calcificações podem ser benignas ou não. Em não sendo, trata-se de câncer! O que causou mais curiosidade no meu caso foi que eu so tinha 33 anos, pois ate então eu não sabia se haviam casos de câncer de prostata na minha família.
Pois o CA de prostata nesta idade e mais comum de forma hereditária.
Quase desmaiei. Senti que a forma pela qual fui informado da possível doença tinha sido grosseira ...
Naquela mesma fatídica tarde teria de ser submetido a outra colonoscopia, mais profunda e específica. Deveria voltar lá para fazer uma punção. Retirariam um pequeno volume do material para fazer o exame patológico.
Voltei na hora marcada. Foi feita a coleta de material (retirada de um pequeno volume de material para que fosse feita uma biopsia. Tempos depois fiquei sabendo que o material retirado fora insuficiente para análise).
Eu ficaria esperando contato dos médicos para saber o resultado daquele procedimento. Era para eu me tranqüilizar que tudo havia corrido bem.
Dias depois recebi comunicação de que no final de fevereiro de 2010 deveria retornar ao hospital para fazer uma mini-cirurgia (retirada de novo material para ser submetido à biópsia), pois nada havia sido acusado na coleta anterior (pelos motivos acima já declinados, mas que me foram omitidos). Informaram-me que era uma cirurgia ambulatorial e não muito séria.
O procedimento era o mesmo de uma cirurgia qualquer, apenas não seria entubado e nem tomaria anestesia geral. Três médicos na sala, mais uma enfermeira e mais ninguem.
pois fiz tudo com a ajuda do Juliano,eu não quis deixar minha esposa e o restante da minha familia preocupados
Foi só nesse momento que o mundo começou a desabar sobre minha cabeça. Chorei muito... A anestesia não fazia efeito... Até que o médico disse-me: “- Valter, o procedimento é simples, mas você precisa ajudar”. Engoli o choro e fiquei quieto... Foi retirado o material e no momento em que foram dar os pontos comecei a sentir dores. O efeito da anestesia havia acabado... Nova dose de anestésico...
Acabado o procedimento fui informado pelo médico de que o material retirado era suficiente para a extinção da micro-calcificações. Ainda na maca, a enfermeira mostrou-me o “caroço” era do tamanho de uma azeitona.! Assustei-me.
O material foi encaminhado à patologia.
Fui orientado a ir para casa e aguardar de 40 a 50 dias outra chamada do hospital para saber do resultado da biópsia, mas que eu não me preocupasse, pois o que fora retirado seria o suficiente para a minha cura.
No dia 03 de março pelas 21 horas recebi um telefonema dizendo que comparecesse ao hospital para saber o resultado da biópsia. Ora, havia se passado bem menos tempo do que haviam me dito. Evidentemente que já sabia o que tinha ocorrido: estava com câncer mesmo e que a cirurgia a que tinha sido submetida não havia resolvido.
Sozinho em casa me desesperei. Comecei uma jornada de telefonemas a todos os contatos que conhecia no hospital para saber o resultado da biópsia. Queria saber do resultado antes de chegar a sexta-feira.
No dia seguinte, fiquei muito triste, mas estava determinado e enfrentar de frente o que tivesse que acontecer.
Já no trabalho recebi telefonema de um contato me informando que, realmente, eu tinha câncer. É estranho o que senti: alívio! O que mais me atormentava era a incerteza. “Se eu tenho câncer, então vou vencê-lo”, foi esse o meu pensamento desde o início.
No dia marcado para “abrirem” o resultado do exame, fui ao hospital. Já sabia do resultado. As duas médicas disseram-me que teria fazer varios exames . Porém, a urgência destes exames, me assustou muito. Pensei: estou morrendo! As médicas me disseram que esse tipo de procedimento era normal e que quanto antes fossem feitos os exames, seria melhor. Uma das médicas me disse que o tumor era maligno, um dos piores de serem curados caso o diagnóstico fosse verificado tardiamente, mas no estágio em que se encontrava, a cura era certa, guardadas as devidas proporções.
Não ouvi mais nada. Apenas pensava na minha mãe. Como dizer isso a ela. Uma mulher de quase 60 anos, que já havia perdido uma filha apenas tres meses atras vitima de um acidente!
Recompus-me e apenas pedi às médicas que me dessem uma semana para resolver minha vida, dar a notícia à família e amigos e organizar minha vida profissional. Respirei fundo e novamente pensei: “vou encarar isso !”
Saí perturbado do hospital, mas no decorrer da semana fui me fortalecendo. não Informei nem minha mãe e nem ninguem do ocorrido.
Até hoje não sei de onde tirei tanta força para aguentar, tudo isso sozinho: Papai do Céu me carregou no colo e vendo o meu nenem eu superava um dia por vez tudo isso.
Disse pra mim mesmo não queria ninguém no hospital porque era só pra fazer os exames.
. Não queria minha mãe nem a sheila naquele ambiente, sofrer inutilmente com a minha dor. Só eu precisava passar por aquilo. Poupei-as e acredito que fiz o correto.
No dia marcado o Juliano me acompanhou.
Sempre me tranqüilizando, Foi quando, então, pude observar o aspecto da enfermaria: pessoas sem cabelos devido à quimioterapia; outras sem mama se movimentando com soro pelo corredor, cumprindo o pós-cirúrgico. Eu estava lá, doente, mas não me sentindo doente!
A maratona de exames durou pela semana. Passei por junta médica, onde diversos médicos estudavam caso a caso. Após me examinar e me deixar mais tranqüilo o responsável me disse: “- Faremos sua cirurgia ela e simples e será um sucesso e senhor será curado!”. Se antes eu já estava confiante, a partir daquele momento ficou decidido na minha cabeça: “essa doença chegou sem pedir licença, então ela vai embora rapidinho, da mesma forma”.
Entreguei minha vida nas mãos de Deus e na dos profissionais.
Disse aos médicos que fosse feito o que tivesse que ser feito. Eu apenas queria viver! Decidi que iria viver!
No último dia dos exames fui informado que minha cirurgia seria antecipada. Pulei de felicidade! Quanto antes se resolvesse, mais rápido estaria livre do pesadelo.
Fui operado, tudo correu perfeitamente bem e voltei corado do centro cirúrgico, acredita? Quando recebi alta fui informado de que seria preciso tomar apenas tres sessões de quimioterapia. Outra vitória.
Fui para casa me recuperar, pois eu queria mesmo era voltar para minha casa. Como sempre fui um homem caseiro e me sentia curado, acreditava que daria conta da recuperação sozinho.
Enfim, em menos de três meses, foi detectado e exterminado o meu tumor. Fiz as seções de quimioterapia, que foram muito doloridas,meu cabelo caiu. três dias depois de ter sido submetido à cirurgia já estava trabalhando e com toda força de vontade do mundo.
Fui medicado e depois de nove meses a medicação foi suspensa. Apareceram sintomas como impotencia temporaria necessidades fisiologicas descontroladas e mal estar freqüente. Após a suspensão do remédio, voltei a ter uma vida normal, normal mesmo!
Sei que ainda tenho três anos e meio de monitoramento médico pela frente, mas me sinto curado totalmente. Faço todos os exames periódicos e continuo a confiar nos profissionais que cuidam de mim.
A força que tive para enfrentar tudo devo à experiência adquirida pelas várias situações que passei em decorrência do acidente que tomou de mim a minha irmã precocemente da minha separação da pessoa que eu AMAVA neste mundo mas principalmente do meu amor incondicional ao meu filho e a minha fé em Deus, porque ele me deu serenidade para esperar e acreditar que tudo daria certo no final.
Nunca levantei os olhos para o céu e perguntei: por que eu? Sempre soube que Deus estava do meu lado, sentia e sinto a presença Dele em todos os momentos e foi isso que me curou efetivamente.
Credito minha cura, também, aos seguintes motivos:
Diagnóstico precoce da doença; jamais pensar que iria morrer pela doença; meu bom humor; apoio total dos meus amigos, dos meus chefes e de alguns colegas de trabalho; profissionalismo imensurável dos médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, corpo técnico da radiologia e do laboratório da patologia do Hospital; minha disciplina em fazer todos os exames solicitados; reação do meu organismo (uma dádiva divina a todos os seres humanos, mas temos que saber usufruir).
Hoje levo vida normal, porém antenado em tudo o que diz respeito a essa doença.
Alerto ainda que o pior de tudo é o medo! Medo de descobrir a doença. Uma vez diagnosticada prematuramente, a cura é total!
Fiquem com Deus e cuidem-se!
Um abraço carinhoso...
Valterson Machado...
valtersonmachado@hotmail.com